terça-feira, 25 de agosto de 2009

Presépio

                            ilustração Carlos Piecho

Noite de véu baço
Vento molhado
Serpenteia e corta
Sarrafo delgado
De fina porta


Nuvens cirandam água
No chão do quintal frio
Abrem-se á névoa
Pétalas de flor no baldio


Aconchegada doce capela
Crepita fogo esfuziante
Na trempe pousa panela
Cor de rubi brilhante


Ao redor do bercinho
José cintilante estrela guia
Embala devagarinho
O encanto de Maria


Em xaile lustroso cotiado
Como asas de cisne negro
De cabelo cacheado
Entre trevas e luz
Rasga vazio num bailado


Inocente teia de afecto
Onde a metáfora
Afronta a sorte
Ouro é mouro
Mirra é parco
Incenso é morte


Ornam o presépio
Braçado de níveas açucenas
Tímidos lírios do campo
Anjos de brancas penas
Cobrem o céu em manto


Júlia Acabado

Sem comentários:

Enviar um comentário