segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Salto
Que faço eu aqui?
Aos treze anos esta pergunta, a mim mesma feita, nasceu dentro de mim
Nasceu-me no corpo, sem eu a pensar, à noite no chão da casa onde dormíamos
Éramos sete, sete pessoas
Na cama, os meus pais e os dois mais pequenitos
No chão, na enxerga de palha, eu, Rebeca, Janico, o meu irmão mais velho
e o meu tio Jaquim
E foi ali, envolta no cheiro da palha e dos suores, no escuro ouvindo os sons de gente dormindo, que perguntei a mim mesma que fazia eu ali
Mais tarde dois anos, seguindo o meu tio, saltei fronteiras nas esconsas da noite
corri estradas a horas de ninguém passar
Cheguei às franças, magra de meter dó, mas descobri ali por fim resposta,
resposta á pergunta que naquela noite distante nasceu dentro de mim, mesmo sem eu saber
Adélia Mauppin
domingo, 30 de agosto de 2009
Ei-los que partem
Realizado por Fernanda Bizarro 4º documentário da série
"Ei-los que partem" (História da Emigração Portuguesa) RTP/2006
"Ei-los que partem" (História da Emigração Portuguesa) RTP/2006
Ei-los que Partem/A Sangria da Pátria
A Sangria da Pátria ...é a história dos emigrantes
portugueses que nos anos 60 abandonam os campos e partem para a Europa.
A seguir à II Guerra Mundial a reconstrução Europeia faz-se com base em políticas de recrutamento activo de trabalhadores do Sul da Europa e as portas abrem-se à emigração.O atraso secular de Portugal, os entraves à modernização da agricultura, o início da guerra colonial e o endurecimento político do regime, empurram para fora do país os camponeses, sem perspectivas e cansados de uma vida de miséria.Em apenas 10 anos mais de um milhão e meio de pessoas sai de Portugal.Dessas, perto de um milhão vai para a França.A salto, clandestinamente, atravessam a Espanha e os Pirinéus e instalam-seaos milhares nos bairros de lata à volta da cintura de Paris, na chamada Ile de France.O programa retrata a situação social, política e económica da época e traça o percurso até aos dias de hoje desses homens e mulheres a que o jornal "Le Monde" chamou "les soutiers de l'Europe" - (os homens do porão da Europa) - e que em pouco tempo ascendem a um nível social e económico inesperado.A RTP ouviu os protagonistas da História e também historiadores e investigadores que estudaram aquela a que o Prof. Eduardo Lourenço chama "a verdadeira Epopeia dos Portugueses". Além do próprio Eduardo Lourenço,"A Sangria da Pátria" inclui depoimentos de Irene Pimentel, que tem investigado os Arquivos de Salazar, Victor Pereira com uma tese de doutoramento sobre a emigração no Estado Novo, Albano Cordeiro, Coordenador do Departamento de Sociologia da Imigração na Sorbonne, Marie-Christine Volovitch-Tavares historiadora e Coordenadora da secção portuguesa do Museu da Imigração que abrirá em breve as suas portas em Paris e ainda Juliette Minces, autora de várias obras sobre a imigração portuguesa em França e o trabalho.Uma história praticamente desconhecida, nunca contada até hoje na televisão Portuguesa, com imagens nunca vistas do maior bairro de lata da Europa, por onde passaram pelo menos quinze mil portugueses. O testemunho vivo de um tempo para que nunca se possa apagar a memória de um povo.
A seguir à II Guerra Mundial a reconstrução Europeia faz-se com base em políticas de recrutamento activo de trabalhadores do Sul da Europa e as portas abrem-se à emigração.O atraso secular de Portugal, os entraves à modernização da agricultura, o início da guerra colonial e o endurecimento político do regime, empurram para fora do país os camponeses, sem perspectivas e cansados de uma vida de miséria.Em apenas 10 anos mais de um milhão e meio de pessoas sai de Portugal.Dessas, perto de um milhão vai para a França.A salto, clandestinamente, atravessam a Espanha e os Pirinéus e instalam-seaos milhares nos bairros de lata à volta da cintura de Paris, na chamada Ile de France.O programa retrata a situação social, política e económica da época e traça o percurso até aos dias de hoje desses homens e mulheres a que o jornal "Le Monde" chamou "les soutiers de l'Europe" - (os homens do porão da Europa) - e que em pouco tempo ascendem a um nível social e económico inesperado.A RTP ouviu os protagonistas da História e também historiadores e investigadores que estudaram aquela a que o Prof. Eduardo Lourenço chama "a verdadeira Epopeia dos Portugueses". Além do próprio Eduardo Lourenço,"A Sangria da Pátria" inclui depoimentos de Irene Pimentel, que tem investigado os Arquivos de Salazar, Victor Pereira com uma tese de doutoramento sobre a emigração no Estado Novo, Albano Cordeiro, Coordenador do Departamento de Sociologia da Imigração na Sorbonne, Marie-Christine Volovitch-Tavares historiadora e Coordenadora da secção portuguesa do Museu da Imigração que abrirá em breve as suas portas em Paris e ainda Juliette Minces, autora de várias obras sobre a imigração portuguesa em França e o trabalho.Uma história praticamente desconhecida, nunca contada até hoje na televisão Portuguesa, com imagens nunca vistas do maior bairro de lata da Europa, por onde passaram pelo menos quinze mil portugueses. O testemunho vivo de um tempo para que nunca se possa apagar a memória de um povo.
sábado, 29 de agosto de 2009
Meados de agosto
e cortina de chita lavada
pomba donzela dormente
audaz ousada e ardente
com seu vestido novo
dado e usado
em ancas
de bandolim marcado
sacode o quadril
onde afunda a enfusa
lábios vermelho juvenil
brotam sorrisos de musa
a segredo sussurrado
ternura de noiva do além
responde a urgente recado
em calça de cutim o tem
camisa de linhaça branca
almocreve em efusão
bota alta de pujança
inflamado como facho
no empoeirado restolhal
entre desejo de macho
ondulante vai e vem
mar de selvagem fervor
atravessam o corpo
beijos molhados em sabor
encravado no peito moreno
trovador de viola campaniça
já em glória mais sereno
desaparece do alarido compromisso
em barulho de cascos no chão omisso
na árvore pia coruja
flor de cabelo desmanchado
tombada à promessa
como chão quente
agrestre alma nua
aguarda semente
Júlia Acabado
ilustração Carlos Piecho
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Felicidade pariu
corpo
doce gomo
suculento
e leitoso
felicidade
refém
de
profano sonho fogoso
sopro
quente impiedoso
que
a sente em pele nua
sem
pudor nem reticência
toma-a
como sua
em
mansa obediência
o
abismo a derriça
entre
renúncia e cobiça
felicidade
mata o anseio
embalando o
ventre cheio
comadre Silvina
a parteira
com a valentia
de Sifrá e Puá
manda fazer
fogueira
tesoura barbante
e trapo
garrafa e óleo
para o parto
sabedoria
intuitiva e bondade
desafia a lei da
sobrevivência
balbucia em tom
de piedade
ritos e orações
de assistência
como
Astréia virgem fecunda
em
harmonia traz ao mundo
das
entranhas escorre fluido
a
boca do corpo se abriu
novo
ser dá um gemido
Felicidade
pariu
grita
a mulher ao marido
réu
inconfesso
perverso
e vil
olhar
baixo e fugidio
rosna
animal no covil
Felicidade
pariu
abandonou
o corpo
fechou
os olhos
nunca
mais os abriu
Júlia Acabado
ilustração de Carlos Piecho
Júlia Acabado
ilustração de Carlos Piecho
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Incesto ...............................um silêncio
um estudo de Vânia Sofia da Silva Gomes
poster de campanha against abuse Inc.
abuso
(latim abusus, -us)
O termo ou idéia de abuso aplica-se a qualquer ação humana onde exista uma pre-condição de desnível de poder, seja ele sobre objetos, seres, legislações, crenças ou valores. Entendendo-se poder como uma condição de possibilidade de ação, em função do desejo ou iniciativa consciente ou não, a contrapartida da liberdade absoluta de ação são os delimitadores que ocorrem na realidade. Estes delimitadores partem de diversas fontes,
e a sua existência prescinde de uma consequência após a ação, em geral, negativa.
O abuso geralmente vem associado à idéia de poder do abusador sobre o "objeto" abusado, que não pode ou não quer (por motivos intimidatórios reais ou não) resistir e/ou se contrapor ao abuso.
Animalidade
s.f. Qualidade ou carácter do que é animal
s.f. Qualidade ou carácter do que é animal
A dignidade da pessoa humana é compatível com a existência da autoridade, mas não com o abuso do poder. O que revela que a categoria própria do homem - a que se afirma quando proclama a sua dignidade - se expressa pela diferença que este tem com os seres carentes de racionalidade e liberdade: uma diferença que se reconhece em todo homem, e não só naqueles que detém o poder ou algo semelhante. Tudo isso é completamente lógico e se funda, de modo visível no conceito de natureza humana, que nos distingue dos animais, ao mesmo tempo em que dá a todos os homens uma profunda e essencial identidade, a que tem que atender às diferenças que entre nós existem. A dignidade da pessoa humana se pode definir como a faculdade que existe no ser humano, de exercer a livre iniciativa. Isolar-se no bem particular é abdicar da categoria própria do homem. Aqueles que abandonam seus autênticos direitos se tornam escravos voluntários.
A personalidade individual do homem é embasada nas particularidades da existência humana, comum a todos os homens. Como dizíamos, a debilidade biológica do homem é evidente. E quando o homem deixa de raciocinar e não usufrui de sua inteligência, ele passa a equiparar-se aos animais, voltando a um nível inferior de desenvolvimento, tendo suas reações baseadas apenas em instintos; que são escassos.
O conceito de animalização
O dicionário Aurélio recolhe animalizar como sinônimo de tornar bruto, embrutecer, bestializar. A Encyclopedia e Diccionario Internacional de W.M. Jackson, Inc. Editores, (Rio de Janeiro), recolhe o verbete animalisar (sic) no seu vol. I: "Reduzir aos instintos, aos appetites, aos gostos do animal; o philosophismo animalisa o homem; a religião divinisa-o/ por ext. Rebaixar-se, descer ao estado animal: Entregar-se as paixões brutas é, a bem dizer, animalisar-se."
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Meninos em Estado Novo pretende expressar o seu
agradecimento a todas as pessoas que de perto ou de longe incentivaram o
desenvolvimento deste trabalho; com sugestões, estímulos, receptividade e
carinho.
É nesta época do ano que as nossas recordações tomam conta
dos nossos corações, Meninos em Estado Novo demonstra terna gratidão e respeito
pela partilha desses momentos no seu espaço virtual.
Meninos em Estado Novo deseja que a estrela do Natal
brilhe nas vossas vidas e que o ano de 2012 seja repleto de amor, fraternidade e
prosperidade.
Júlia Acabado
Carlos Piecho
Júlia Acabado
Carlos Piecho
Presépio
ilustração Carlos Piecho
Noite de véu baço
Vento molhado
Serpenteia e corta
Sarrafo delgado
De fina porta
Nuvens cirandam água
No chão do quintal frio
Abrem-se á névoa
Pétalas de flor no baldio
Aconchegada doce capela
Crepita fogo esfuziante
Na trempe pousa panela
Cor de rubi brilhante
Ao redor do bercinho
José cintilante estrela guia
Embala devagarinho
O encanto de Maria
Em xaile lustroso cotiado
Como asas de cisne negro
De cabelo cacheado
Entre trevas e luz
Rasga vazio num bailado
Inocente teia de afecto
Onde a metáfora
Afronta a sorte
Ouro é mouro
Mirra é parco
Incenso é morte
Ornam o presépio
Braçado de níveas açucenas
Tímidos lírios do campo
Anjos de brancas penas
Cobrem o céu em manto
Júlia Acabado
Noite de véu baço
Vento molhado
Serpenteia e corta
Sarrafo delgado
De fina porta
Nuvens cirandam água
No chão do quintal frio
Abrem-se á névoa
Pétalas de flor no baldio
Aconchegada doce capela
Crepita fogo esfuziante
Na trempe pousa panela
Cor de rubi brilhante
Ao redor do bercinho
José cintilante estrela guia
Embala devagarinho
O encanto de Maria
Em xaile lustroso cotiado
Como asas de cisne negro
De cabelo cacheado
Entre trevas e luz
Rasga vazio num bailado
Inocente teia de afecto
Onde a metáfora
Afronta a sorte
Ouro é mouro
Mirra é parco
Incenso é morte
Ornam o presépio
Braçado de níveas açucenas
Tímidos lírios do campo
Anjos de brancas penas
Cobrem o céu em manto
Júlia Acabado
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