de pedagogia solitária
onde a afeição
entra em simbiose involuntária
com a satisfação de si próprio
onde etapas de infância e juventude
são como labaredas na plenitude
agarradas a pés de azinho
quentes vivas unidas
regras livremente consentidas
sem honras nem doações de alinho
Fantástico mundo o meu
como bastardo sem registo
em aparatos de jogos simbólicos
bagos de romã caroços de laranja
migalhas de pão improvisadas
ganham vida e satisfação
infância rebelde e quebradiça
como cabelo revolto de libertação
Fantástico mundo o meu
onde o contributo de crescimento
são portas fechadas que abrem a vida
que desenrola em chão de trilho
pontas de ferro certeza e decisão
capas de corda no pião
manual de genética de pai para filho
escola ensinante de bonecos de pano
chumaços de trapo em ângulo exacto
de galhos bifurcados atirando a alvo intacto
como pedras em elástico de fisgas
Fantástico mundo o meu
onde a cobertura das árvores
são cúmplices do brincar imaginário
onde a fundura dos poços
são espelho de alma extraordinário
onde a sossega da noite
contrasta com o frio do lençol
onde se ouvem cantigas de rouxinol
Fantástico mundo meu
onde a candeia traz luz de esmola
e a infância não tem escola
ajeito-me num torrão de terra
com os três dedos da mão direita
agarro o lápis na ponta estreita
e risco os primeiros traços
nas costas do papel estreito
que embrulha o conduto
fantástico mundo meu
onde a infância é só produto
Júlia Acabado
Caros Amigos
ResponderEliminarQuero felicitar-vos pela vossa ideia.
E felicito-vos por terem escolhido como tema um assunto que toda a gente em Portugal parece querer esquecer.
Essa amnésia auto-infligida é uma das principais causas do atraso que os portugueses padecem.
A sociedade portuguesa após o 25 de Abril pretendeu construir-se em cima de nada.
Dessa impossibilidade, nasceu um ilusório estado de modernidade.
Tal como num cenário de filme, bem pintado pela frente mas com um estaleiro desarrumado, descurado por trás.
Daí a importância da vossa abordagem, construíram um espelho, um pequenino espelho, mas haja quem se queira lá ver.
Agora dirijo-me a Júlia Acabado.
Vou-lhe fazer um elogio: Gosto do que escreve.
Sou velho e vivo fora de Portugal faz muito tempo. Desde que aprendi a ler que leio poesia.
Quando li os poemas que publicou, confesso, que os estranhei, mas foi isso que me fez voltar a ler e reler.
Em primeiro lugar, não falavam de sua “vidinha” como milhares de escritos que enxameiam a blogoesfera e cujo lema é “escrevo, logo existo”.
Não, a Júlia pinta os seus poemas com cores fortes e inusuais combinações dando a quem a lê visões de fragmentos de vida. É essa a sua riqueza.
Embora não a conheça pessoalmente, e sendo pouco provável que a venha conhecer, ouso dizer que não é a escrita que faz existir a Júlia como poeta, mas a forma como olha e se deixa impressionar pelo que vê.
Sinto pelo que escreve que, ou escreve pouco ou que escreve há pouco tempo, mas ainda bem que escreve.
Para acabar, permita-me um conselho: escreva mais, divirta-se com as palavras, deixe que as palavras se divirtam consigo.
Parabéns
Frederico Morteira
New Jersey
Subscrevo inteiramente o comentário anterior.
ResponderEliminarParabéns!
É muito bom chegarem notícias de pessoas que não se deixam envolver no torvelinho dos tempos que correm.
Júlia, admiro a força telúrica das suas palavras, que nos desvendam, os passos de quem as percorre, mas também a força que, subterrânea, as faz mover.
Nas suas palavras sente-se os cheiros da Terra e das gentes. Humanidade.
Carlos, lendo e vendo (olhando) o seu poema "Postigo", concluo que o seu percurso o vai levar a não escrever. Por não sentir necessidade.
A semântica ainda exerce o seu poder, mas penso que fonética lhe interessa muito mais. E o traço.
Carlos,continue a desenhar-nos poemas.
Abraço
Espero por mais
Emília Feliz Souza